quarta-feira, 23 de março de 2011

A NATUREZA DORME

Autor: Graciliano Ramos

Vejo a tarde sumindo;

É triste o seu andar.

A noite vai lhe engolindo

E o Sol a se amontanhar.

 

A Natureza dorme,

No seu habitat.

 

A arara grita o seu nome

E voa pra outro lugar.

A mãe-da-lua se some,

Depois começa a cantar.

 

É tão pequenina,

Mas faz tudo se acordar.

 

Ela chama a lua

Pra vir clarear.

Se esta mata é sua,

Por que lhe expulsar?

 

O mistério da noite

É de arrepiar!

 

Grita Mapinguari,

Capelobo quer se levantar.

A cunha faz qui... qui.. qui..

Mas seu lindo sorriso

Não é pra magoar.

 

Índio velho que se transformou

E não pode mais andar.

 

Pra subir a serra,

Pra rever o mar,

Ver a motosserra

Que vem devastar.

 

O velho quer guerra

Mas nem pode andar.

 

Pra ver aquela estrada

Que ali vai chegar.

A jovem índia estuprada

Vai se apavorar.

 

Barulho das máquinas

Vai se espalhar.

 

Homens com sacola

Vão querer ficar,

Deixando cacos de coca-cola

Para o povo se acidentar.

 

É o princípio do fim,

Tudo vai se acabar!

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